10 de março de 2009

Notícias

Boas notícias são pouco relevantes?

Nos Estados Unidos da América há estudos sobre a relação entre o consumo de televisão na adolescência e a depressão na idade adulta. Em Portugal, há um debate. Uma coisa é, para já, certa: faltam conteúdos positivos.

Um estudo levado a cabo por investigadores da Universidade norte-americana de Pittsburgh (ver caixa) conclui que os conteúdos veiculados pelos média televisivos aumentam a probabilidade de doença depressiva junto do público na adolescência.

Segundo uma notícia avançada pelo jornal espanhol "El Mundo", este estudo conclui ainda que a agressividade, o medo e a ansiedade são outras das consequências possíveis nas pessoas que vêem muitas horas de televisão naquela faixa etária. Este facto reflecte-se também numa perturbação no desenvolvimento normal da personalidade.

Para o sociólogo Carlos Silva é claro que o "consumo excessivo de televisão retira tempo de convivência social, necessária para criar segurança afectiva, e pode gerar ansiedade e incerteza". O docente fala do perigo da criação do "atomismo social" e da criação de uma "relação imaginada: a sós, uma criança não partilha nada com a televisão e não dispõe de mecanismos de percepção ou instrumentos para relativizar ou compreender um fenómeno violento, por exemplo".

O 'boom' das séries relativas à criminologia, mas também a tipologia das notícias nos telejornais fornecem outros contributos para a reflexão deste tema. Mas serão os conteúdos noticiosos televisivos capazes de propiciar problemas de ansiedade ou depressão junto de um público adolescente?

Sem estudos que lhe permitam afirmar um 'sim' ou um 'não', a docente de Jornalismo Felisbela Lopes, considera que "isso é resultado do que se entende que é notícia". Se "é o que irrompe da normalidade do dia-a-dia, nesse sentido, as boas notícias perdem terreno", continua.

Felisbela Lopes entende que deveria ser possível "começar a olhar o que é entendido como relevante do ponto de vista positivo" e avança o exemplo de "o campo da ciência e do saber não abrirem noticiários".

Ainda que "as boas notícias não tenham um relevo tão grande quanto gostaríamos", a docente da Universidade do Minho também considera que "os coordenadores do noticiários não podem fazer uma mudança radical. O que é anormal é notícia, mas seria preciso, isso sim, introduzir outros dados neste processo, porque o que é positivo pode ser muito relevante", reafirma.

Por seu turno, Rui Teixeira Motta, da Associação de Telespectadores (ATV) não tem dúvidas em afirmar que "existe uma predominância excessiva de conteúdos que envolvam sangue, sexo ou violência na televisão, quer no âmbito noticioso quer no entretenimento". E não hesita em dizer que "não é preciso ser psicólogo para concluir que numa fase como é a adolescência - mas também na idade adulta - isso se vai traduzir numa visão deprimida do Mundo".

O responsável considera que "a televisão tem responsabilidade sobre os telespectadores", mas o o excesso de conteúdos negativos perante os positivos "não acontece por acaso". Rui Teixeira Motta fala em "ditadura de vendas e audiências" e, nesse contexto, "a construção de valores e a venda de notícias são áreas que só muito ocasionalmente são coincidentes", remata.

Fonte: Jornal de Notícias

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