1 de agosto de 2010

O Protagonista


O Protagonista deste domingo não só marcou uma semana, como uma vida inteira.


António Feio foi mais que um actor ou encenador. Foi um exemplo para todos os humanos que, pelo facto de ter sido atraiçoado por um cancro do pâncreas, procurou passar a mensagem de que os problemas que por vezes nos afectam não são assim tão graves. O velho ditado "a esperança é a última a morrer", foi também uma das mensagens que António Feio quis trespassar para todos aqueles que teimam em ver uma luz ao fundo do túnel.
Sem dúvida que, a par de tantos milhares de portugueses, fiquei chocado quando me informaram da morte do actor. Com um tom de voz bastante taciturno, o Tiago avisou-me: "O António Feio morreu". A primeira coisa que pensei não foi propriamente na morte, mas sim na impossibilidade de isso ter acontecido. Porquê? Foi-nos dada uma imagem de força, de vida e, essencialmente de um futuro melhor. Semanalmente as revistas informavam-nos disso mesmo, apesar de por vezes existir uma ou outra recaída. No entanto, fomos totalmente apanhados desprevenidos, uma vez que, António Feio já se encontrava em fase terminal há duas semanas.
Faz-me confusão não se ter sabido disso mais cedo, mas tenho noção de que tal estado de saúde deve ter sido mantido no maior secretismo possível, de modo a desviar as atenções do actor para lhe proporcionar alguns momentos de sossego.


António Feio foi um mestre "da treta". Sempre com a piada na ponta da língua, até com o seu pâncreas brincou, aquando da XIV Gala dos Globos de Ouro.
A sua carreira profissional foi, é e será marcada por excelentes prestações em peças de teatro (prova disso foi o facto de ter sido condecorado pelo Presidente da República, no Dia Mundial do Teatro), tais como Inox-Take 5, a partir da qual o actor se início o trabalho com José Pedro Gomes. Seguem-se A Partilha, O Que diz Molero, Perdidos em Yonkers, Duas Semanas com o Presidente, Conversa da Treta, Bom Dia Benjamim, O Chato, entre outros. Apesar de não ter visto nem metade destas peças de teatro, sei reconhecer o talento e a perspicácia que António Feio tinha para as mesmas. Sempre gostei do seu querer, da sua garra, de saber exactamente o momento ideal para se lançar a piada. O meu respeito por ele foi enorme, e continuará a sê-lo.



Recordá-lo-ei muito pelo seu trabalho, mas principalmente pela pessoa que era. Antes de qualquer actividade profissional que possamos desempenhar está a nossa maneira de ser, o nosso profissionalismo, a nossa educação, os nossos sentimentos. Só através deles conseguiremos alcançar o nosso ego, o nosso bem-estar. António Feio conseguiu atingi-lo, e isso foi notório.

Desejo paz à sua família, e esperança a todos aqueles que enfrentam um cancro. No entanto, a esperança é algo que nunca deve ser esquecida. E é com ela que batalhamos pelos nossos sonhos, que temos força para encarar o futuro e, acima de tudo, os obstáculos que nos aparecem à frente.

Termino este Protagonista com uma frase de António Feio, a propósito do filme Contraluz:

Aproveitam a vida e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento. Agradeçam e não deixem nada por dizer, nada por fazer.

Obrigado António.

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