5 de março de 2010

Fecho

Boa noite. O Fecho desta noite incluí uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.
Às 21:00, o SÓ Séries entra em linha.


A rever: "Os Normais"

Rever Os Normais (TV Globo Portugal, vários horários) é confirmar o que já antes se percebia: que nunca se fez outra coisa assim nos domínios do humor em língua portuguesa - e que jamais a nossa televisão chegou sequer perto daquele resultado. Os dilemas são os de todos os dias, mas os diálogos são fulminantes. E os actores são magníficos, incluindo uma Fernanda Tor-res que transformou um corpo banal num novo paradigma de beleza e um Luiz Fernando Guimarães, que, sendo um notório gay, interpreta de forma exímia a figura do machão tropical, mimado, preguiçoso e resistente ao casamento.

É difícil escrever uma sitcom, como provam os muitos fracassos da TV americana, a maior referência no género. E porém, quando se trata de comparar Os Normais com tudo o que já se fez em Portugal, o que está em causa não é tanto a estrutura da narrativa quanto o tipo de humor. Porque também já produzimos coisas boas, inclusive algumas brilhantes (Her-man José e Gato Fedorento à cabeça). Mas fizemo-lo sempre com recurso ao hu-mor nonsense, nunca ao humor clássico. E este, encaremo-lo, é muito mais difícil de trabalhar. Porque não se trata de pegar no quotidiano e subverter as lógicas, mas de reeditá-las e, apesar disso, desconstruí-las de forma delirante.

Dizia Wittgenstein que o humor não é um estado de espírito, mas uma visão do mundo. A nossa tenta às vezes ser clássica, mas nesses casos revela-se sempre cliché, bidimensional e fundamentalmente ridícula - e só quando desata a partir cadeiras ganha um mínimo de graça. É uma limitação significativa. Quem nos disse que os portugueses eram pessoas com ironia bem nos enganou.

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